“Provavelmente o melhor livro de negócios já escrito” – Forbes.

 

A frase acima vem impressa na capa do livro Criatividade S.A. do Ed Catmull, presidente da Pixar Animation e Disney Animation. Apesar de a capa o título (sou dessas que se apaixona fácil por um livro), já terem despertado minha curiosidade e vontade de ler, eu não entendi de primeira o porquê de um livro até então “sobre criatividade”, escrito por uma das maiores referências de animação, servir de referência para grandes negócios.

 

Mas não demorou muito para a ficha cair: A obra de Ed é sobre seu desafio como gestor, sobre a trajetória que o levou a criar  o ambiente fértil e sadio da Pixar, sustentado por uma filosofia que valoriza, acima de tudo, a criatividade.

 

Na páginas seguintes nós mergulhamos na história e no ambiente do mais famoso estúdio de animação, conhecendo os bastidores de grandes sucessos como o premiado Toy Story, Procurando Nemo e até o mais recente Divertidamente. A forma como Catmull direciona a narrativa é leve, envolvente e cheia de lições importantes sobre inovação, empreendedorismo e, é claro, criatividade.

 

 

Tudo começou com um sonho

 

Uma verdadeira fábrica de sonhos e ideias teve um começo bastante óbvio: nasceu de um sonho. Na década de 70 a tecnologia ainda não tinha se desenvolvido o suficiente para que fosse possível animar imagens através do computador. Então, aos 26 anos de idade, Ed fixou uma nova meta para sua vida: desenvolver uma maneira de animar imagens através do computador de maneira convincente o suficiente para que fosse utilizadas em filmes.

 

Em 1974 o Instituto de Tecnologia de Nova York o convidou para trabalhar para eles. Tinham a pretensão de ampliar os limites do que os computadores podiam fazer em animação e imagens gráficas. Apesar do bom trabalho que estavam desenvolvendo e da do grande investimento que tinham disponível para suas tecnologias, Ed e seu parceiro, Alvy, logo identificaram sua maior deficiência: não tinham ninguém em sua equipe que tivesse experiência em produção de filmes. Eles precisavam de contadores de história, e apesar de se colocaram disponíveis à grandes estúdios, não obtiveram sucesso.

 

A história começa a mudar de rumo com a estreia de sucesso do filme Guerra nas Estrelas, de George Lucas. A ousadia de investir em incríveis efeitos visuais e sonoros colocou a Lucasfilm na liderança no desenvolvimento dessas novas ferramentas, numa época em que ninguém pensavam investir em novas tecnologias.

Não demorou muito para George decidir criar uma divisão de computadores. Para dirigir a nova parte da sua empresa, ele precisava de alguém que acreditasse na possibilidade de unir filmes e computadores, de maneira que um pudesse acrescentar o outro. Essa pessoa era Ed Catmull.

Durante sua trajetória na Lucasfilm, Ed pôde se superar e crescer muito à medida que desenvolvia novas tecnologias que viraram referência em computação gráfica. Para sanar a necessidade de um “contador de histórias” na equipe, John Lasseter, famoso animador da Disney, começou a trabalhar com Catmull.

 

Apesar da jornada de sucesso, após enfrentar uma difícil separação, George Lucas teve que colocar a divisão de computadores da sua empresa à venda.

É ai que Steve Jobs entra e muda completamente o rumo da história, dando origem à Pixar Animation que hoje conhecemos.

(Se você ficou curioso para saber o desenrolar da história, leia o livro, vou parar por aqui para evitar spoillers! ;))

 

 

Biografia e Empreendedorismo

 

O livro é o que podemos chamar de um mix perfeito entre biografia e empreendedorismo. A todo tempo Ed utiliza como exemplo os famosos sucessos da Pixar para descrever situações internas do estúdio. O fator da familiaridade dá à narrativa uma leveza e aguça nossa curiosidade de saber como funcionam os bastidores da famosa produtora. Além de conhecer a história, cria-se a expectativa de aprender a receita para tanto sucesso, mas como você já deve saber, receita só de comida mesmo.

 

O sucesso não pode, nem deve, ser visto como uma fórmula. O caminho até ele funciona de diferentes maneira para cada um. Mas a forma como você deverá guiar a gestão para chegar até ele é o que realmente importa. A maior lição que Ed no deixa em seu livro é sobre criar uma gestão preocupada em manter o ambiente de trabalho confortável o suficiente para que as pessoas se sintam livres para criar, participar e acima de tudo tomar suas próprias decisões. Ele também nos mostra a importância de saber lidar com o fracasso e aprender a não perder energia tentar buscar um culpado por uma falha na equipe. Em momentos difíceis deve-se focar em resolver os problemas. Nunca acusar pessoas.

 

 

Banco de cérebros: o segredo por trás do sucesso da Pixar

 

Conhecido como “Banco de Cérebros”, o modelo criado por Catmull para reuniões de feedback sobre filmes mudou a história da Pixar (e da Disney Animation). O que hoje é uma tradição, começou de maneira despretensiosa, mas eficaz.

 

Em dado momento, todo diretor sentia dificuldade em seguir com a história do filme. As coisas simplesmente não andavam e eles não conseguiam encontrar soluções para problemas que às vezes pareciam óbvios, e outras vezes não eram enxergados por culpa de uma “visão viciada”. Estar mergulhado durante muito tempo em um universo criava uma barreira enorme. Era preciso que pessoas de fora pontuassem situações e apontasse soluções para seus filmes.

 

Até ai não existe nada de muito revolucionário. Recebemos feedback sobre o nosso trabalho o tempo todo do nosso chefe, que geralmente nos diz a maneira que devemos fazer as coisas, como podemos melhorar para aumentar a produtividade na empresa etc.

 

O que difere o Banco de Cérebros é que esse “grupo” de pessoas (em média 5 pessoas) é geralmente formado exclusivamente por diretores e animadores com alguma experiência anterior em histórias e animação. Os membros que compõe o Banco mudam a cada reunião, garantindo a rotatividade, e eles estão no mesmo nível de hierarquia que os diretores que recebem seus feedbacks. Isso garante que um diretor não se sinta obrigado a mudar sua obra por ordens que vêm acima dele, ele vai receber os conselhos e refletir sobre a melhor solução. Não existem obrigatoriedade! 🙂

 

Quando a Pixar formou aliança com a Disney Animation, o Banco de Cérebros foi uma das primeira coisas a serem implantadas e que mudou a forma como a empresa fazia seus clássicos.

 

 

O que você (e a sua empresa) pode aprender com a Pixar em Criatividade S.A.

 

O livro foge do clichê motivacional, ainda que usando algumas frases que inspiram, ele nos dá uma injeção de ânimo quando nos damos conta que empresas como a Pixar e Disney passaram por muitos momentos difíceis e situações de fracasso em que foi crucial lançar mão de inovações para, no futuro, dominar mercados.

 

Antes de concluir seu livro, Catmull destinou as últimas folhas para transmitir pensamentos diretos, reunidos ao longo do livro, que servem para nortear aqueles que estão em busca de uma cultura criativa. Chama-se: “Pontos de partida: Pensamentos para gerenciar uma cultura criativa”. Posso garantir que essas páginas valem ouro e recomendo que, após a leitura do livro, você copie e espalhe esses “pontos” por diversas partes do seu ambiente de trabalho, para que você não esqueça em nenhum momento. 😉

 

Além de empreendedores e empresários, o livro é indicado para criativos, apaixonados por cinema ou qualquer pessoa que deseja criar uma cultura de  criatividade para resolver problemas e desenvolver soluções inovadoras.

 

Se você já assistiu qualquer filme da Pixar, vai gostar de ler a obra de Ed. Ele te leva a uma viagem por dentro dos bastidores do mais famoso estúdio de animação. É curioso, inspirador e transformador. Leia!

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