O Homem é um ser transformador e necessita de utensílios para sobreviver em ambientes e condições distintas desde o início dos tempos. Produzir os primeiros abrigos fora das cavernas e inventar objetos como facas, flechas e agasalhos garantiu à raça humana uma superioridade dentre os habitantes da Terra e nos permitiu popular várias regiões do planeta.

 

Se no início os objetos e ambientes eram projetados ao acaso, a partir da tentativa e erro e o aprendizado com as experiências, há algumas décadas nos deparamos com uma realidade onde muitos fatores são considerados na arte de projetar. A figura do Designer surgiu e cada vez mais os processos de design foram sendo incorporados aos projetos, seja no seu âmbito formal e estético ou em seu aspecto estratégico e semiótico, fazendo evoluir a arte de projetar como um todo e trazer contribuições diversas às empresas.

 

É nesse contexto que atua a Ergonomia, disciplina do Design “relacionada ao entendimento das interações entre os seres humanos e os outros elementos ou sistemas, e à aplicação de teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de otimizar o bem estar humano e o desempenho global do sistema.” (ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia, 2014). Com a evolução da oferta de artefatos, o usuário tornou-se exigente com todos os aspectos que compõe um projeto, sempre avaliando e demandando cuidados especiais relacionados não apenas à estética, mas à funcionalidade e usabilidade dos produtos e demandando dos fabricantes e projetistas uma constante atenção com suas criações, já que a concorrência acirrada os torna vulneráveis a qualquer deslize.

 

 

O que a Ergonomia estuda?

 

A Ergonomia estuda 3 aspectos básicos, a parte Física – relacionada com características de anatomia, fisiologia, etc. -, a Organizacional – ligada à otimização de sistemas, estruturas organizacionais e processos – e a Cognitiva (foco desse post), que é relacionada aos processos mentais, tais como percepção, memória e raciocínio. Autores que estudam esse segmento, salientam a importância da interação entre o ser humano e o que está ao seu redor. Cañas e Waerns (2001), por exemplo, afirmam que “para realizar uma tarefa uma pessoa tem que perceber estímulos do ambiente, receber informação de outras pessoas, decidir que ações são apropriadas, transmitir informações a outras pessoas que podem realizar a tarefa, etc. Todos esses aspectos são o objeto de estudo da ergonomia psicológica ou cognitiva”.

 

De fato quando idealizamos um sistema bem sucedido de interação com o usuário, todos os aspectos cognitivos devem ser considerados, uma vez que formam o repertório intelectual do indivíduo. Esses elementos estudados pela Ergonomia Cognitiva são cruciais para o entendimento da relação entre os consumidores e os objetos, sistemas e ambientes, onde podemos entender melhor como eles processam as informações e em que podemos atuar a fim de criar uma maior interação entre ele e o que o mercado oferece.

 

Um dos assuntos mais estudados pela Ergonomia Cognitiva é a Interação Humano-Computador (HCI). Desde sua invenção em meados do século XX o computador vem se tornando cada vez mais importante no cotidiano de todos, expandindo seu uso para muito além dos fins militares e matemáticos que impulsionaram sua criação. Com o surgimento dos PCs, os computadores pessoais, na década de 70, iniciou-se um crescimento exponencial da aplicabilidade de sistemas computadorizados no dia-a-dia da sociedade e atualmente encontramos módulos inteligentes em objetos e ambientes variados, como celulares, eletrodomésticos e espaços interativos projetados para promover momentos diferenciados ao consumidor. Nesse processo, cresceu também a importância de observar a forma como as pessoas interagiam com esses dispositivos a fim de projetar e aperfeiçoar os artefatos com ênfase na usabilidade, que compreende a facilidade do usuário aprender a utilizar os artefatos, memorizar o manuseio, satisfação no uso e a minimização de erros na utilização.

 

Entender como as pessoas pensam, interpretam e interagem com os objetos, interfaces e ambientes significa dar um passo para criar um elo emocional forte com elas e garantir que a sua marca será lembrada com um grande apreço. É muito importante entender que no cenário atual, o consumidor é bombardeado por diversos produtos e serviços dos mais diferentes fabricantes e a marca aparece com um facilitador no processo de decisão da compra. Portanto, estabelecer uma conexão com o consumidor é uma tarefa chave e que exige um esforço contínuo por parte das empresas e de seus projetos.

 

Atualmente, muitas interfaces digitais são utilizadas no mercado para criar uma interação entre os consumidores e as organizações e tais plataformas podem propiciar experiências únicas. A popularização de tecnologias de Realidade Virtual (RV), por exemplo, torna possível a criação de momentos e ambientes que permitem que as marcas se comuniquem mais profundamente com os seus clientes, explorando aspectos emocionais e sensoriais que ajudarão a estabelecer um forte elo entre as duas partes.

 

Dentro desse contexto, o designer como criador de interfaces tem um papel importante para a concepção de produtos e ambientes que promovam uma interação satisfatória com o usuário. Utilizando de conhecimentos ergonômicos e explorando os aspectos sensoriais dos indivíduos é possível proporcionar experiências diferenciadas e que serão lembrados pelas pessoas de forma satisfatória.

 

É necessário ressaltar, no entanto, de que da mesma forma que podem causar um efeito positivo, um design que não tenha sucesso na busca pela boa interação pode trazer um consequência igualmente negativa, acabando por ser maléfica à imagem da empresa, sendo, portanto, de suma importância o conhecimento do perfil de quem estará utilizando os artefatos a fim de buscar uma melhor usabilidade.

 

E as mídias digitais?

 

Quando trabalhamos com as mídias digitais, devemos pensar que cada contato que o consumidor tem com a nossa marca é de suma importância. Seja na elaboração de um site, em páginas nas redes sociais, ações promocionais e tudo mais que envolva uma interação entre cliente e empresa, é preciso considerar que o usuário é hoje um ser que não apenas recebe informações, mas demanda das empresas que os escute e projetem soluções baseadas em suas necessidades e vontades. Vivemos hoje em uma eterna busca pelo seu bem-estar e pensar nas estratégias com foco no cliente é um meio de conseguir agradá-lo, surpreendê-lo e mantê-lo ao nosso lado, não apenas como consumidor, mas como um embaixador e propagador da nossa marca garantindo assim à empresa uma clientela sustentável e com potencial de expansão.

 

Um bom exemplo que podemos citar são as montadoras de automóveis. Entendendo que o seu público não é o mesmo do tempo do Ford Model-T, famoso por sua padronização no início dos veículos automotores, as empresas agregam aos seus sites sessões interativas que não apenas mostram os veículos por vários ângulos e em paisagens espetaculares. Além de trazerem uma navegabilidade que convida o usuário a explorar a ferramenta, conhecendo a história da empresa, onde encontrar lojas e oficinas, os seus serviços e ações de relacionamento com o cliente, eles oferecem ao consumidor a possibilidade de conhecer o seu carro antes mesmo de vê-lo ao vivo em sua garagem. Conseguimos ver todas as características em detalhes, mudar cores, comparar modelos e tudo o que precisamos para realizar uma compra segura sem muitas vezes pisarmos em uma concessionária. Conceitos assim podem ser aplicados a diversos tipos de negócios.

 

Pensar em como as plataformas digitais são importantes para aproximar o cliente dos produtos e serviços e investir em ferramentas que consigam transmitir a satisfação que ele terá ao adquirir o que procura em sua empresa pode ser determinante na hora de escolher entre você e o seu concorrente. Lojas de roupa, por exemplo, podem utilizar seus sites e redes sociais, por exemplo, para aproximar o cliente de suas peças -através de uma exposição virtual de todos as suas características e possibilidades – e oferecer uma comodidade diferenciada e a possibilidade de customização, muito valorizada hoje pelos consumidores..

 

Ações promocionais também podem se beneficiar desses conceitos para criar uma experiência realmente diferenciada e marcante, chamando a atenção do consumidor para a empresa, sua marca, produto ou serviço e valores. As vendas online e a utilização de plataformas digitais para comunicação entre marcas e clientes crescem em todo mundo e entender os indivíduos e como eles interagem com as interfaces digitais é crucial para se destacar nesse cenário e conseguir impactar e cativar o seu atual ou futuro cliente.

 

No próximo post, irei explorar com mais detalhes os conceitos de Design de Experiência e como eles podem contribuir para agregar valor às marcas. Falarei de um case bem interessante sobre o assunto e que hoje é reconhecido em todo o mundo, sendo inclusive um dos principais programas turísticos da Europa, a Heineken Experience, em Amsterdã, na Holanda.

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