Não é novidade que vivemos em uma era na qual a informação está cada vez mais acessível. Também não é preciso dizer que este fator faz com que tenhamos nossas vidas expostas (por nós mesmos, inclusive) na internet. Com isso, é cada vez maior a preocupação com privacidade. O que devo ou não mostrar sobre mim nas redes sociais? O que uma empresa pode ou não saber sobre minha vida? O que ferramentas de relacionamento que eu uso podem dizer sobre mim para outras empresas? São preocupações válidas e importantes. Mas o jornalista americano Jeff Jarvis, autor do best-seller “O que a Google faria?”, esta levantando a bandeira de menos privacidade em sua nova obra “Public Parts” e em diversas aparições em debates e programas de TV. É isso mesmo, menos.

 

O livro foi lançado no final de 2011 e o título é um trocadilho com “private parts”, ou partes íntimas (a ideia foi do escandaloso Howard Stern, ele explica). O que o jornalista defende é que a sociedade pode ter vários benefícios ao vivermos de uma forma menos privada. Suas ideias polêmicas têm rendido a ele vários embates com aqueles que ele chama de “advogados da privacidade”. Mas são pensamentos legais, que nos fazem refletir se ao invés de usarmos todo o poder das redes sociais para falarmos o que comemos no jantar, estivéssemos nos expondo de uma forma mais produtiva. Aliás, porque temos tanto medo de que a Google ou o Facebook saibam demais sobre a gente e ao mesmo tempo damos tanta informação gratuita sobre nós mesmos nas redes sociais? E mais, seria tão mal assim se divulgássemos informações realmente pessoais?

 

Jarvis argumenta, logo de cara, que dados que a gente acha que são muito privados, às vezes, nem são tão secretos assim. Ele mostra no livro, por exemplo, que qualquer um pode saber quanto ele ganha (!). O salário base de um professor de Jornalismo é divulgado no site da universidade onde ele ensina e os lucros que ele teve com os livros publicados são divulgados pela imprensa e pela própria editora. É só fazer as contas. Há alguns anos ele teve câncer de próstata e narrou toda a saga entre, diagnóstico, tratamento e remissão em seu blog. Tudo com muito, mas muito, detalhe. Tá, o negócio pode até já estar ficando desconfortável, mas ele abre a sua vida e garante: é muito melhor viver uma vida pública. Em primeiro lugar, porque muitas vezes nossas informações já estão públicas, a gente é que acha que não. Segundo, e mais importante, porque podemos tirar vantagem disso. Como?

 

 

  • Sendo público sobre temas que são importantes: “Viver uma vida pública nos leva a construir relacionamentos”. Quando o jornalista foi a público falar sobre o câncer ele encontrou pessoas que haviam passado ou estavam passando pela mesma situação. A conversa com esses estranhos deu conforto mútuo aos participantes e espalhou a informação sobre a importância de exames preventivos e do diagnóstico precoce da doença.

 

  • Tornando públicas informações sobre nosso trabalho ou estudo: “Quando eu compartilho minhas ideias online, encontro pessoas dispostas a espalhar ou desafiar essas ideias (ou a fazer negócios comigo)”. Antigamente, quem tinha informação tinha poder. Hoje, ele defende, é muito mais interessante abrir nossos projetos online, conversar, ver o que outras pessoas estão fazendo, perguntar. Sempre estamos envolvidos em projetos. Assistimos a aulas e palestras, escrevemos para blogs (J), participamos de pesquisas… Essas são ótimas informações que devem ser tornadas públicas. “Viver publicamente torna colaborações possíveis”.

 

  • Reunindo a família e os amigos: “Desde que entrei no Facebook, eu me reconectei com velhos amigos e parentes que eu não via há muito tempo. As relações renascem”.

 

  • Contribuindo com informações pessoais que podem ser usadas em cenários globais: “Uma vida pública desperta a sabedoria (e a generosidade) das multidões”. Às vezes, algo que acontece conosco ou informação a qual tivemos acesso, podem contribuir para a sociedade em diferentes escalas. Quem quer saber se você está meio mole hoje porque acordou resfriado? Jarvis cita a pesquisa da Google que buscou por buscas da palavra “gripe” para indicar em que áreas dos Estados Unidos a virose estava mais frequente e transmitiu os dados para os Centros de Controles de Doenças e Prevenção como forma de prever demandas por vacinas e tratamentos.

 

  • Sendo transparente: “Ser público é uma forma de desarmar estranhos e neutralizar estigmas. Talvez a melhor ilustração deste poder é como ele deu aos gays uma chave para ‘sair do armário’. O fato de homens e mulheres gays terem sido, por tanto tempo, forçados a esconder sua sexualidade depõem contra a nossa sociedade e não contra eles. Esse segredo não deu a eles controle de suas vidas, mas sim fazia com que preconceituosos tivessem controle sobre a vida deles. A solução para os gays foi se revelarem, tornarem essa informação pública, mostrarem orgulho, reunirem solidariedade e força e, assim, desafiar a sociedade a os reprovarem. Esse tipo de informação pública diz para o mundo: ‘Sim, esse sou eu, e daí.’”.

 

Compartilhar bobagem é fácil e divertido. Mas compartilhar informações importantes e permitir uma interação produtiva pode ser bem mais interessante.

 

Acompanhe o blog de Jeff Jarvis: www.buzzmachine.com

Acompanhe o programa semanal sobre tecnologia da qual Jeff Jarvis participa: http://ow.ly/jlMA2

Saiba mais sobre o livro Private Parts: buzzmachine.com/publicparts/

Saiba mais sobre o livro O que a Google faria: buzzmachine.com/wwgd ou http://ow.ly/jlMRf

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