Oi gente do bem!

 

Esta semana consegui realizar uma entrevista bem bacana! Se você é jornalista e atua no universo digital, vai se amarrar neste bate-papo! 😀

 

Então…

 

O Digaí esteve presente no Meetting Brasília, que aconteceu há duas semanas. Na cobertura do evento, tive a oportunidade de conhecer Alexandre Secco.  Com 30 anos de experiência nos segmentos impresso e digital, ele inovou e foi além das possibilidades oferecidas pelo papel, se tornando diretor da Medialogue Comunicação Digital, uma agência que promove causas e ideias, cria campanhas e ajuda a construir diálogos na web e redes sociais.

 

Achei incrível a abordagem feita por ele sobre a área de data analytics e o desenho do cenário impresso versus o digital. Aí pensei: tenho que entrevistar este cara!

 

Vamos à entrevista…

 

 

Impresso x Digital

 

 

Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação

 

Fale um pouco sobre sua trajetória na comunicação. Como chegou à Medialogue?

Fiz uma carreira convencional nessa área: repórter político na Folha de S.Paulo, editor de política na Veja depois executivo na Exame. A mídia impressa já vinha (e ainda vem) sofrendo com a onda choque produzida pela economia digital, mas entre 2009 e 2010 enfrentamos uma crise econômica grave, as coisas ficaram ainda mais difíceis, e achei que era hora de dar uma virada. Comecei a desenvolver alguns projetos para área digital. Um dos primeiros foi para o portal  iG. Juntei o que conhecia de jornalismo e tudo que tratei de aprender de digital. A receita deu certo. Assim surgiu a Medialogue.

 

Como aconteceu esta mudança de impresso pra digital e como avalia esse cenário de comunicação atual?

 

Na verdade, a mudança de impresso para digital ocorreu faz tempo, dentro da minha cabeça, quando eu percebi que havia uma mar de possibilidades fora do papel. No impresso eu fiz de tudo, longas reportagens, criei revistas, tive colunas, recebi prêmios…É uma paixão. Mas a novidade mesmo está no digital. Quando apareceu uma oportunidade eu mudei. Tem muita coisa para fazer. De um lado, estamos discutindo a produção de notícias por robôs. Mas na outra ponta ainda estamos muito atrasados na oferta de canais acessíveis para pessoas portadoras de deficiência. Dois extremos.

A opinião dos usuários mudou a forma de se comunicar. Como que o feedback dos usuários está influenciando a produção de conteúdo por jornalistas?

 

Tínhamos uma vida bem mais fácil. Trabalhei na Veja e na Folha, líderes em seus segmentos. De um modo geral, a tiragem alta e as renovações de assinaturas eram sinais evidentes de que a qualidade dos produtos era reconhecida pelos leitores. Porém, em uma edição da Veja havia coisas boas e ruins, no dia a dia ninguém tinha uma ideia clara sobre a avaliação dada a cada reportagem, a cada nota. Hoje o leitor responde imediatamente, nada escapa. É um grande desafio, pois uma das coisas que se aprende no jornalismo é que se você entrega só o que o leitor quer corre o risco de se dar mal, porque, na verdade, o que as pessoas mais querem é a surpresa. Por outro lado, esse diálogo constante com os leitores ajuda a corrigir erros e encontrar formas mais eficientes de falar.

As grandes redações devem mudar para fazer jornalismo do século 21? Como seria este jornalismo?

 

Para as redações é questão de sobrevivência. A forma como se ganhava dinheiro nesse mercado já não funciona tão bem. Google e Facebook tornaram-se concorrentes muito fortes para jornais e revistas, não há como evitar uma mudança muita profunda. Os jornalistas precisam avaliar como suas habilidades podem ser utilizadas nesse novo cenário, mas sem dramas. Jornalistas não estão sozinhos. Médicos cirurgiões tiveram que se  adaptar à laparoscopia, advogados tiveram que decifrar novas legislações, os engenheiros usam técnicas e materiais diferentes das que aprenderam a usar na faculdade. É preciso ter em mente que as coisas mudam muito rápido. Na essência, o jornalismo, a medicina, engenharia e o direito não mudaram. Médico salva vidas, advogados defendem pessoas, engenheiros constroem coisas e jornalistas informam. Mas existem novas ferramentas para exercer essas profissões, novas formas de fazer isso.

 

Muito se fala na sobrevivência dos impressos. Você acredita que tem tempo hábil para o fim deste formato? Qual seu prognóstico?

 

O mercado para as publicações impressas vai encolher. Para fazer um jornal é preciso derrubar árvores, produzir papel, operar uma enorme estrutura industrial, lidar com poluentes e ter uma operação de logística para distribuir. Não parece que esse modelo, em larga escala, possa  fazer sentido por muito tempo. Mas o papel vai continuar por aí, talvez por muito tempo. Publicações impressas são gostosas de ler, eu mesmo gosto de ler jornais de papel pela manhã. O desafio é encontrar um modelo econômico.

 

 

Qualificação

 

Você percebe algum processo de adaptação e renovação no mercado jornalístico atual?

 

O desafio é encontrar modelos rentáveis e manter a força para continuar atraindo os bons profissionais, aqueles capazes de conduzir essas transformações. Sabemos que há um problema aí. Hoje o Facebook, Google e o Twitter parecem ser as empresas preferidas por muitos jovens que pensam em comunicação. Quanto eu entrei no mercado, a molecada sonhava com O Globo, Folha e Veja.

 

Vemos uma quantidade espantosa de jornalistas sendo demitidos das grandes redações. A publicidade comum não sustenta o modelo até então seguido pelos comerciais. Como garantir a permanência neste mercado?

 

Costumo ouvir essa história de como a tecnologia tende sempre a ampliar a oferta de empregos, especialmente criando novos negócios. Mas há um aspecto dessa história menos discutido. A indústria de carros criou mais vagas do que a de carroças, mas no começo dessa revolução os carroceiros foram para a rua e o negócio sucumbiu. Jornalistas estão enfrentando essa transição, estamos no olho do furacão. Por enquanto, a conta ainda não fecha. O Facebook fatura 13 bilhões de dólares e emprega 10 mil pessoas. A Rede Globo, falando do grupo todo, emprega 24 mil pessoas e fatura 4 bilhões de dólares. Tem os empregos indiretos, claro, mas parece que as pessoas estão encontrando dificuldade para se recolocar. Empresas de mídia pelo mundo afora estão tentando descobrir como lidar com isso e muitas não estão aguentando, estão fechando as portas.

 

O mercado como era cinco ou dez anos atrás acabou, oferece menos vagas e paga cada vez menos. Uma outra forma de lidar com isso é imaginar que você está mudando de país e precisa aprender muita coisa nova, até as mais simples como tirar uma carteira de

motorista. Vai ser mais fácil encontrar os novos caminhos.

 

Como é sua atuação na Medialogue e quais os desafios a empresa está superando neste cenário digital tão constante e muitas vezes indefinido?

 

Nós temos apenas cinco anos, mas já trabalhamos em duas campanhas presidenciais, para governo, senado e prefeitura, atendemos ONGs e fazemos uma trabalho importante de pesquisa. Mas o conhecimento adquirido hoje está obsoleto amanhã. Os recursos tecnológicos que empregamos nas eleições de 2010 não serviram em 2012 e estes estavam ultrapassados em 2014. Eu procuro funcionar com cabeça de jornalista: o que é novo? O que dá para descobrir? Que projeto pode ser desenvolvido? Tem essa parte e tem uma outra que é cuidar dos conteúdos. Nós produzimos textos, pesquisas e até matéria impresso. Isso tudo precisa ter um padrão elevado para que as pessoas se interessem. Não dá para descuidar. Sobre os desafios, quem faz negócios no Brasil já está ciente de que é como praticar um esporte radical. Precisa encontrar um equilíbrio entre investimento e crescimento. Não é fácil.

 

 

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Até a próxima! 😉

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