O Design é uma atividade relativamente nova. Apesar do homem projetar objetos e desenhar figuras, gráficos e outros trabalhos visuais há muitos anos, apenas no século passado, especialmente após a II Guerra Mundial, o Design começou a ser melhor estudado e aplicado. Com grande contribuição dos europeus, especialmente alemães e italianos, a atividade evoluiu ao longo do tempo e nas últimas décadas tem estado mais presente na realidade brasileira.

 

 

Inicialmente, sua aplicação foi muito ligada a indústria, sendo inclusive introduzida no Brasil sob o nome de Desenho Industrial. O Design Gráfico representava o outro lado da moeda, que hoje é multifacetada e pode trazer novas soluções para os mais diversos negócios e com as mais diferentes atividades.

 

 

Porém se o designer pode ser tão útil para as empresas -públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos – o que encontramos hoje no mercado é uma grande desvalorização do profissional e de seu trabalho. Em minha experiência como executivo de contas de agência de Design ,conversando com vários amigos que exercem a profissão e dentro do mestrado em Design pela UFPE, encontrei um discurso comum. Não existe uma boa relação do mercado com o Design no Brasil e a falta de informação por parte das empresas e de conhecimentos de gestão e vendas por parte dos profissionais são apenas algumas das possíveis razões encontradas para explicar tal fenômeno.

 

 

Se tantos países desenvolvidos entendem a importância e investem no Design, qual a razão de isso não acontecer por aqui? Quais as reais contribuições que o Design pode trazer? Quanto merece ser pago a um projeto de Design? É isso que pretendemos discutir nesse post.

 

 

Design não é só estética!

 

 

Talvez essa simples frase seja a representação do desconhecimento da atividade do Design no Brasil. Constantemente ao falarmos de Design com empresários, profissionais de outras áreas e leigos em geral, encontramos uma noção quase universal de que o Design está relacionado em tornar os objetos bonitos. Além de ser uma enorme simplificação do que é de fato a atividade, tal noção resulta em uma perigosa conclusão: o designer é o responsável por toda a onda consumista que assola o mundo. Ele cria aquilo que não precisamos e nos convence a comprá-lo, consequentemente contribuindo para o caos ambiental que vivemos hoje. Mas repito: Design não é só estética!

 

O Design é subdividido em várias áreas, como: design gráfico, de produto, de informação, de experiências, de interiores, de moda entre várias outras, e possui campos de estudo que pesquisam sobre sua aplicação e como pode melhor contribuir para a qualidade de vida dos usuários e do ambiente que habitamos, como o Design Emocional, Design Sustentável e Design Estratégico – para citarmos apenas alguns. Logo, ao pesquisarmos melhor sobre as suas possíveis contribuições, começamos a observar que em uma empresa, órgão público ou qualquer outro empreendimento podemos nos beneficiar com a competente implantação e gestão do Design.

 

O Design Estratégico, por exemplo, é o ramo que estuda como o Design pode ser crucial para o melhor desenvolvimento de uma estratégia visando a satisfação do usuário para o qual a organização se propõe a oferecer um produto ou serviço, gerando diferenciais que serão percebidos como qualidades que agregarão valor à marca e ajudarão no sucesso comercial do empreendimento. Uma vez definida uma boa estratégia e um sólido plano de negócios, a empresa precisa “nascer” visualmente. Entra em cena o Design Gráfico na criação de uma marca e suas aplicações, o Design de Produto para transformar um conceito em algo palpável, o Design de Embalagem, que estudará não apenas a melhor forma de armazenar um artefato, mas quais os materiais mais indicados para cumprir o papel de conservação e não agredir o meio-ambiente.

 

Ao fim do processo de criação da empresa e do seu produto, o Design ainda mostra-se presente, com a contribuição de um web-designer na criação de um site corporativo, que transmitirá ao público todas as informações sobre a empresa, seus produtos e seus valores, sociais, comerciais e ambientais. Percebe-se assim que, seja uma prefeitura, indústria de automóveis ou pizzaria do bairro, qualquer empreendimento fará uso de ferramentas relacionadas ao Design e é importante perceber que, com um público cada vez mais consciente e exigente, não adianta economizar.

 

Se no momento de concepção de um negócio são tratados com antecedência e destinados recursos a compra de equipamentos, aquisição e reforma de espaço físico, entre outras obrigações, não deve-se imaginar que a criação de uma marca ou de um site, por exemplo é menos importante e demanda menos tempo. Dessa forma seria como ter o melhor motor e todo os componentes de um bom carro montados de forma inadequada, sem considerar as particularidades e desejos do público-alvo e ainda por cima dentro de uma carcaça que não gera desejo no consumidor. Design significa acima de tudo projetar a coisa certa, para as pessoas certas e da melhor forma possível, considerando forma, função, estética e usabilidade.

 

Como falam Brunner e Emery no livro “Gestão Estratégica do Design: Como um Ótimo Design Fará as Pessoas Amarem sua Empresa” (M. Books, 2010):

 

“Por que é tão importante que o design seja parte de todos os aspectos de sua empresa, de uma extremidade à outra? O que é uma empresa voltada para o design? É quando qualquer empresa começa colocando a experiência do usuário no primeiro plano e trabalhando na exteriorização disso. Você pode ver empresas cujo principal produto é a tecnologia, ou talvez, o serviço, e que são voltadas para o design, uma vez que são moldadas e impulsionadas pelo que os consumidores vêem , experimentam e valorizam. Para essas empresas, é isso que impulsiona o desenvolvimento – marketing e vendas, até mesmo produção e distribuição. Tudo vem da ideia de “O que estamos projetando para as pessoas, para qual resposta emocional e como precisamos fazer isso?””. 

 

 

Trabalho importante tem que ser bem remunerado!

 

 

Qualquer profissional, seja ele autônomo ou parte de alguma entidade pública ou privada, deseja ser reconhecido pelo seu trabalho. A valorização, financeira e não-financeira, é essencial para que o mesmo imprima o seu melhor e entregue aquilo que o seu cliente espera e na atividade de Design não é diferente.

 

Uma empresa não funciona sem um produto bem elaborado, uma marca e, nos dias de hoje, sem uma boa presença nas mídias de comunicação, especialmente na internet. Para todas esses processos, como vimos, o designer exerce um papel importante e deve ser bem remunerado por isso. Ao abordarmos empresas, especialmente pequenas e médias empresas, como um escritório de Design inicialmente nos deparamos com a dura tarefa de explicar o que fazemos, o que pode variar de acordo com o foco de cada um: design gráfico, design de embalagem, web-design etc.

 

Se conseguimos identificar bem uma necessidade e atrair o cliente para a realização de uma reunião encontramos outro obstáculo: mostrar que somos profissionais e que o nosso trabalho é importante. Vender um site ou uma marca, por exemplo, costuma vir com o desafio de mostrar ao cliente de que o trabalho de uma agência não pode ser comparado ao daquele sobrinho ou amigo que “mexe com essas coisas”. Se você tiver sorte de encontrar um empresário antenado e que saiba diferenciar o trabalho de um profissional entramos no último estágio, e talvez o mais doloroso e que queremos focar nesse post: definição de preço e prazos.

 

Um trabalho de Design obedece vários estágios que devem ser bem realizados para que o trabalho final seja de qualidade e atenda as necessidades do cliente. No livro “O Valor do Design” (Editora Senac, 2002) são listados os seguintes critérios para a elaboração do preço de um projeto: Complexidade do trabalho, complexidade do mercado do cliente, porte do cliente, natureza do cliente (quem é e qual a sua atividade?), exposição do projeto, alcance do projeto (regional, nacional, internacional?), custo/hora do escritório, cobrança das aplicações, encomenda ou concorrência, prazo de execução, experiência do designer.

 

Como é possível verificar, são muitas as variáveis de um projeto e é natural que sejam cobrados valores diferentes a clientes diferentes. Como trata-se de um serviço personalizado e único (não cobra-se a criação de uma marca ou site por mês, e sim por projeto) o escritório deve avaliar cada trabalho de forma individual e orçá-lo de acordo com o que ele representará para o cliente. Por essa razão, por exemplo, a mesma agência pode cobrar R$4 mil para fazer a marca de um restaurante local ou R$200 mil para a marca de um órgão público ou empresa de grande porte. E isso é normal!

 

Quando falamos de prazo o cliente deve entender que não trata-se de um produto de “prateleira” e esse é o diferencial de um bom design. Para a criação de um bom trabalho, deverá ser feita uma profunda investigação da realidade do cliente. Qual o seu mercado? Quem são seus clientes? Quais o seu diferencial? Quem são os seus concorrentes? O trabalho de planejamento está diretamente ligado à qualidade do produto final e isso deve ser respeitado, afinal o cliente está pagando por algo que ele planeja manter por um bom tempo. Por isso não é coerente exigir que uma marca seja criada em 3 dias ou que um site esteja em pleno funcionamento em 1 semana. Todas as possibilidades devem ser consideradas e testadas para que seja entregue o melhor produto possível. Como diz meu orientador no Mestrado, Prof. PhD Amilton Arruda, se o designer entrega a marca com tons de vermelho e branco, por exemplo, ou desenvolve uma navegação “X” para o seu site, ele tem motivos e embasamento para tal e deve ser fiel a suas convicções, demonstrando da melhor forma ao seu cliente a razão por estar certo.

 

 

O que quero dizer com tudo isso?

 

 

No fim das contas tudo se resume ao fato de que: toda empresa precisa de design e se ela não percebe ainda está com seus dias contados, então o trabalho de design deve ser bem remunerado e respeitado.

 

Esse post serve para profissionais de design entenderem a sua importância e buscarem se informar a respeito de como melhor se vender e estipular o seu valor (os dois livros citados são boas referências), mas também para os empresários, para que entendam a importância da profissão e o que há por trás de um projeto de Design.

 

Entender o que sua empresa pode ganhar com Design é mais fácil quando observamos aquelas empresas que admiramos e que são sucesso ao redor do mundo. É seguro dizer que a maioria dá a importância devida ao Design e você também deveria fazê-lo. Vale se informar e refletir. Não é “apenas design”! Pode ser o que falta para sua empresa ter sucesso e você não quer ser o último a perceber isso.

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