O filme Cine Holliúdy é um sucesso no país. O cineasta Halder Gomes é o principal responsável por essa obra. Apaixonado por filmes de lutas, cearense – estado brasileiro mais bem-humorado (celeiro de grandes comediantes) – ele traz no filme o “cearensês”.

 

Não, não é um dialeto de tribal, é, na verdade, um modo de significar a linguagem própria dos cearenses. Formado em administração e com pós em marketing, trabalhou em Hollywood, primeiramente, como dublê de filmes de luta. Na cinebiografia nacional, participou das obras Bezerra de Menezes e as Mães de Chico Xavier.

 

Perguntei várias curiosidades e aspectos à Halder e pude, então, chegar a uma conclusão e agrupar em 5 perspectivas.

 

As 5 perspectivas que podemos traçar sobre o cinema “brasyleiru” depois de uma conversa que tive com o cineasta que veio de  “holliúdy”.

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1- Fazer cinema hoje é mais fácil do que antigamente – mas não é fácil fazer cinema

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Temos hoje uma série de investimentos do governo: lei 12.485/2011; lei rouanet artigo 25; lei audiovisual nº 8685/93 artigos 1º,1ºA, 3º e 3º A; lei nº 10454/02 mp  2228/01 artigo 39; fundos (funcine e fundo setorial) e editais. Mas fazer cinema é “estar no chão da fábrica”, ou seja, mesmo com tantos subsídios possíveis de serem utilizados, ainda temos um processo visceral para quem faz cinema – principalmente o independente.

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Muitos investimentos do governo são voltados para a parte da produção do filme, aos poucos é que começam a surgir investimentos direcionados para o planejamento e pós-produção. Sim, planejar antes mesmo de um filme sair em cartaz é o diferencial de um produto – como o Cine Holliúdy – de sucesso para um produto de baixa bilheteria. Na fase do planejamento, é importante já esquematizar o processo de distribuição do filme: como será lançado, em que lugares, com que estratégias, etc.

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Primeiramente, o filme de Halder Gomes estreou no Ceará e lançou mão de cartazes estratégicos e propagandas direcionadas, por exemplo, para o público que consumia o filme de Paulo Gustavo. Os trailers de Cine Holliúdy antes da exibição do “Minha mãe é uma peça” surtiram efeito.

 

O filme bateu a bilheteria do Titanic no Estado e dentre outros tantos recordes que nem comento aqui.

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2- Não há etapa simples no processo. É preciso pôr a mão na massa em todas elas

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O roteiro é o ponto de partida. Uma boa história já traz consigo inúmeras possibilidades de criação: seja no retrato, no figurino, cenário, interpretações dos atores, entre outros. Mas só um roteiro bem escrito não garante o sucesso da obra (quando falo em sucesso, neste caso,  me refiro à quantidade de público nas salas do cinema). Então, é o cineasta independente quem, muitas vezes, coloca no papel seus devaneios – o que não é uma etapa simples – posso me recordar, ao falar nesse aspecto, de Rachel de Queiroz:

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“A noção comum que se tem a respeito do escritor é que pessoas excepcionais, nascidas com o dom de escrever bem o belo, são periodicamente visitadas por uma espécie de iluminação das musas, ou do Espírito Santo, ou de um outro espírito propriamente dito – fenômeno a que se dá o nome de “inspiração”…

Pode ser que existam esses privilegiados – mas os que conheço são diferentes…

Talvez com autores de imaginação rica o fenômeno se passe diferente. É provável que eles, ao contrário de nós, os terra-a-terra, primeiro imaginem um enredo e depois, segundo as necessidades desse enredo, vão criando os personagens e os situando no tempo e no espaço. Aí a sensação criadora deve ser de plenitude e gratificação. Mas esses são os estrelos. A arraia miúda escrevente – ai de nós – é mesmo assim como eu disse: pena, padece e só então escreve.”

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Depois do texto, temos o tratamento de direção que fornece a estética do filme – cor, textura, fotografia, etc. Produzir (orçar, planejar, executar,…) é também outro processo árduo – ter de lidar com o aspecto jurídico, financeiro, entre outros, é pesado meu amigo. A direção é mais um capítulo à parte. E a pós-produção com seus efeitos especiais, trilha sonora sincronizada com a cena, closes, nuances,… culmina, por fim, na distribuição. Este é o meu “processo” de criação – sintético vale sinalizar.

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3- Ser PMO no cinema, porquê não? ( O impacto do cinema em toda uma cadeia do mercado)

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Como vimos, são várias as etapas e em todas elas o cineasta independente e, arrisco dizer, o cineasta brasileiro de modo geral tem que pôr a “mão na massa” mesmo. Isso significa, estar presente nas diversas etapas do processo – que pode absorver a figura do PMO (gestor de projetos) – e trabalhar com primor para que delas haja um refino artístico. É mais “fácil” fazer cinema hoje, sim, devido aos incentivos, mas o fazer cinema em si NÃO é simples.

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Um dos problemas que enxergo é a falta de uma visão de negócios por parte de quem concebe a obra. Deixe-me explicar melhor: Visão de negócios no sentido de que pode-se enxergar uma obra cinematográfica com qualidade também como um produto. Produto que pode ser “vendável”, que pode ser plástico a ponto de se transformar em diferentes produtos físicos e intangíveis.

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Por exemplo, os filmes infantis que se transformam em verdadeiras vitrines para a comercialização de bonequinhos, figurinhas, cadernos, etc. Para uma gestão do negócio-cinema, pode-se contar com a atuação de um profissional chamado PMO. No bom português podemos chamar também de gerente de projetos.

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Ele é quem torna uma tarefa em algo metrificado e alinhado com os recursos cabíveis, além de executar tudo no prazo e com maestria. É um profissional caro no mercado, mas também em plena expansão de mão de obra. Há quem diga que o futuro é constituído por projetos. O que vale dizer é que acredito nesta figura como alguém que atue ou como produtor ou como parceiro de um produtor audiovisual na luta pela execução “perfeita” de uma obra.

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4- Olhe para o seu quintal que você enxergará o mundo (O legado do cine holliúdy)

 

 

É importante dizer também que não é necessário encontrar uma linguagem, ou mesmo uma história, “comestível” em todo o mundo. Fale com a sua tribo (olhe para ela) que você é capaz de falar com o planeta.

 

Fale a língua da sua terra sem medo porque as questões e os conflitos humanos – como já diz a expressão humanos – são inerentes a qualquer pessoa do globo (independente da sua localização). O filme cearense em questão, Cine Holliúdy, é o melhor exemplo para ilustrar o que estamos falando. Ao se direcionar para o próprio povo do Ceará, Halder conseguiu se comunicar com todo o país – com todos os públicos dos festivais que participou.

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5- Atue em transmídia (Os próximos passos: Cine Holiudy 2 ? )

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Neste primeiro longa não houve planos para atuação em transmídia (acesse o podcast com Mari Brasil pra recordar o que significa isso e aguarde um novo com o Mauricio Correa) mas, o que tudo indica, já no Cine holliúdy 2 espera-se uma obra diversificada em diferentes plataformas de comunicação.

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O longa em cartaz de Halder foi, há alguns anos, um curta que por ter sido muito elogiado pelo público e pela crítica deu ao criador o estímulo suficiente para apostar na história a ponto de exibi-la em longa metragem.

 

E para os que almejam entrar no universo audiovisual vai agora uma dica, porque conselho se fosse bom era vendido:  “Vá estudando não só a arte do cinema mas também as diferentes plataformas que constituem o que chamamos de transmídia”.

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Então, para começar os estudos, vale a pena aprender sobre marketing digital.

Confere esse profissional que manja muito do assunto e até o próximo post sobre a economia criativa!

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Aqui vai o trailer do filme para os interessados:

 

 

 

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